VERDADEIRO OESTE
TEXTO: Sam Shepard
Tradução: Pedro Galiza
Encenação: Pedro Quiroga Cardoso
Interpretação: Daniel Silva, João Cardoso, Maria Inês Peixoto, Pedro Galiza
Cenografias e Figurinos: Sissa Afonso
Sonoplastia: Francisco leal
Desenho de luz: Nuno Meira
Produção Executiva: Maria Inês Peixoto
Estreada em 1980, no Magic Theatre, em São Francisco, tendo depois corrido o mundo e sendo a elevada a peça de culto após a produção emblemática de 1982 na Steppenwolf Theatre Company, em Chicago, ‘Verdadeiro Oeste’ (‘True West’) fecha a chamada Trilogia da Família de Sam Shepard, depois de ‘Curse of the Starving Class’ (1976) e ‘Buried Child’ (que ganhou o prémio Pulitzer em 1979), onde a choque entre família, passado e memória foi cruamente escalpelizado.
À parte das macro-temáticas e muito além da linguagem, dos diálogos febris, entrecortados, delirantes, marcas transversais à obra de Shepard, há, em “Verdadeiro Oeste”, uma exploração muito particular da maneira como a fantasia americana, as várias fantasias americanas, a ideia de sucesso, a fome de fama, a vertigem do dinheiro, se revelam não só poderosos motores de realização e revelação pessoais, como também instáveis catalisadores de violência, caos, nonsense e, há que sublinhá-lo, humor. Tragédia e comédia espoletadas por sonhos de glória, tendo como pano de fundo o deserto californiano onde os coiotes uivam na noite e o calor não dá tréguas, o tal “Verdadeiro Oeste” de que nos fala o título.
Dois irmãos, Austin, um guionista de Hollywood em busca do seu primeiro grande êxito, e Lee, um ladrão de pequena monta, partilham, acidentalmente, a casa da mãe, que foi de férias ao Alaska. Há já cinco anos que não se viam e a paz mal digerida que partilham, permanentemente ameaçada pelas profundas diferenças de carácter que os separam (a calma cerebral e ambição pequeno-burguesa de Austin são contrapostas pelas inconveniência e rispidez de Lee), parece prestes a estalar a qualquer momento. Conforme o primeiro, desejoso de ver acabado o esboço de um guião que há-de apresentar a Saul, um poderoso produtor, é ininterruptamente interrompido pelo segundo, incapaz de suspender a invocação do passado, da memória do pai de ambos que partiu para o deserto, a memória vai operando a sua magia, deixando-nos entrever as feridas que os irmãos carregam e escondem. O inevitável confronto entre os dois há-de proporcionar uma radical inversão de papéis, um retorno à infância, um duelo de imaginações e, aquando do regresso da mãe, um mergulho desesperado, surreal e sem regresso na violência sem quartel, conforme os coiotes uivam e a noite cai.
DEZEMBRO 2024
SALA de BOLSO - PORTO
PRODUÇÃO:
ASSéDIO TEATRO